Sáb Fev 11, 2017 11:42 am
Avião ultraleve que caiu em Santarém era experimental e voava em testes
O avião ultraleve que caiu em cima de uma casa no bairro Maracanã na tarde de quinta-feira (9) matando o condutor, ferindo outro ocupante e mais cinco pessoas da mesma família voava na região de forma experimental - ou seja, em teste para verificação de critérios de segurança e operação. A vítima, Jucelio Fontineli, de 34 anos, havia montado a aeronave recentemente em uma área próxima ao Lado Juá. Peças e outros equipamentos foram retirados de um ultraleve antigo e colocados no novo.
Segundo informações de amigos, desde o fim do ano passado, Jucelio Fontineli vinha montando o ultraleve e na quinta-feira (9) foi fazer os primeiros testes, resultando na tragédia. Testemunhas disseram Jucelio ainda chegou a fazer um passeio sozinho. Depois, retornou e pegou o ocupante, Raimundo Castro, de 43 anos, que estava como passageiro. Durante mais um passeio de teste, o avião caiu. “Ele disse, nós vamos dar um voo por aqui mesmo”, contou a esposa de Raimundo, Lauriene Ferreira.
O ultraleve é um tipo de aeronave que se insere na categoria experimental. No Brasil, o Código Brasileiro de Aeronáutica estabelece como regra geral que todas as aeronaves devem ser certificadas, no entanto, permite a construção amadora e o desenvolvimento da aviação experimental. Do ponto de vista material, uma aeronave certificada difere de uma aeronave experimental porque passa por um processo rigoroso de avaliação de projeto, testes de equipamentos e ensaios em voo em várias condições.
Uma aeronave experimental, que geralmente se caracteriza por não ser submetida a uma longa campanha de testes, deve expor poucas pessoas ao risco e somente aquelas essenciais ao projeto. Portanto, aeronaves experimentais são restringidas a voar sobre áreas pouco povoadas, ou em alguns casos específicos, a áreas completamente isoladas. O voo sobre áreas povoadas necessita de autorização específica, e o transporte de pessoas e bens com fins lucrativos é proibido.
Normas da ANAC
As aeronaves desta categoria devem ser operadas dentro dos limites regulamentares e demais limitações indicadas no certificado de aeronavegabilidade experimental que acompanha cada aeronave, e de que o acompanhamento dos aspectos técnicos, incluindo a manutenção, é importante medida para que se evitem acidentes. Não se pode confundir os limites de operação das aeronaves certificadas e das experimentais de construção amadora, nem o papel da ANAC frente a cada um destes segmentos.
Os candidatos a obtenção da habilitação para voo dessa aeronave precisam, assim como todos os pilotos, seguir regulamento específico para obtenção do documento. Para habilitar o piloto, devem ser atendidos os requisitos de idade, escolaridade, conhecimento, experiência, instrução de voo e aptidão psicofísica. São exigidos exames médicos, além do curso teórico e prático antes da realização de prova junto à ANAC ao final de cada módulo do curso.
O acidente
O ultraleve caiu em cima de uma casa por volta de 17h40 de quinta-feira (9) e estava com duas pessoas a bordo, sendo um homem, que pilotava a aeronave e outro ocupante. Na casa havia cinco pessoas e todas ficaram feridas, sendo que três com ferimentos mais graves. As vítimas foram socorridas e levadas ao Pronto Socorro Municipal (PSM). Duas, que tiveram escoriações leves e não precisaram ser levadas ao hospital, segundo o Corpo de Bombeiros.
De acordo com informações de testemunhas, a aeronave decolou da praia do Juá por volta 17h30, sobrevoou o rio Tapajós e fazia o retorno para pouso, quando perdeu a instabilidade e em questão de segundos, caiu, às 17h40. O homem que conduzia o avião foi identificado como Jucelio Fontineli. Segundo o hospital, a vítima morreu ao dar entrada na unidade. Outras quatro vítimas foram internadas. Segundo o Hospital Municipal, duas ainda continuam internadas.
Nota Anac
A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) informou que ainda não foi notificada oficialmente sobre o acidente e esclareceu que nesses casos, as informações são apuradas pelo CENIPA, que é o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos. A ANAC disse ainda que, por se tratar de uma aeronave experimental, as investigações são realizadas pelas autoridades policiais locais. A ANAC não confirmou oficialmente se o nome da vítima era do piloto e ressaltou que o nome informado - Jucelio Fontineli - não possui habilitações junto a Agência de Aviação Civil.
Nota Aeronáutica
Por telefone, a assessoria da Aeronáutica informou que uma equipe do Primeiro Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa I) esteve no local nesta sexta-feira (10) para realização de ações iniciais e investigar as causas do acidente com o ultraleve. A Aeronáutica informou também que ainda não foi comunicada sobre o fim do prazo para a conclusão das investigações.